As crianças
aprendem sobre o mundo em contato com os objetos. É segurando, apertando,
cheirando e colocando vários deles na boca que passam a entender o que as
cerca. Para a turma da creche, que ainda pouco conhecem, essas experiências são
ainda mais intensas. Fernanda Nunes, da Creche Nossa Senhora Aparecida, em
Florianópolis, viu uma oportunidade nessa forma de as crianças de 1 e 2 anos
aprenderem. Mas ao mesmo tempo que reconhecia nelas a necessidade de
experimentar percebeu que no privilegiado momento da refeição - diário e
demorado - isso não era aproveitado porque o jeito de apresentar os alimentos e
o cardápio não variavam. "Os pratos normalmente chegam à mesa prontos para
o consumo. Com isso, a criançada quase não vê, por exemplo, a semente da maçã
ou a diferença entre a cor da casca e a da polpa da fruta por dentro",
diz.
Para mudar a
situação, a professora montou um projeto e apresentou sua ideia para a escola e
as famílias das crianças da turma. Seu objetivo era mostrar aos pequenos
diferentes frutas e outros alimentos, como ovos e milho preparados de maneiras
variadas. Durante essas aventuras gastronômicas, eles poderiam ampliar o
repertório.
As famílias
então se organizaram. Quem tinha um pé de pitanga ou de mexerica no quintal ou
conhecia cultivos de morango, cacau ou jabuticaba levou uma pequena quantidade
das frutas para a escola. Em outros dias, a professora se encarregava da tarefa
e, semana a semana, um novo alimento da época entrava no cardápio do lanche. Na
sala, diante dos pequenos sentados em roda, ela dizia: "Essa é a pitanga.
Quem nos trouxe foi o Rafael. Alguém já conhece essa fruta?" e
"Rafael, por favor, conte pra gente de onde ela veio". "A
pitanga é da minha casa! A mamãe colocou no pote", falou orgulhoso o
garoto, de 2 anos. A educadora então propôs que as pitangas fossem passadas de
mão em mão para que todos pudessem sentir o cheiro delas, perceber as que eram
mais firmes ou macias e ainda ver sua cor vibrante. A seguir, foi o momento de
experimentar a novidade. "Agora que já conhecemos esse alimento por fora,
vamos comê-lo?" Ao sentir o gosto, as reações foram imediatas:
"Gostoso!" ou "Na minha casa também tem e eu como tudo!".
Muitas das crianças estavam começando a falar e pouco se expressavam com
palavras, mas o rosto delas denunciava o estranhamento com o azedo e o prazer
que aquilo causava. Quando alguém da classe não queria experimentar, Fernanda
dizia: "Seus amigos estão gostando, você quer tentar também?" Se
ainda assim não se interessava, ela respeitava a decisão. "Às vezes não se
tolera o sabor ou a textura em um momento. Então, é melhor não forçar e esperar
uma próxima oportunidade, mais adiante."
Na semana
seguinte, ao conhecerem o cacau, as crianças acharam que se tratava de um
mamão, mas, depois de vê-lo aberto e com outra cor, trataram de experimentá-lo.
"Nas primeiras vezes, muitas não queriam comer. Em outras, cuspiam. Com o
passar do tempo, porém, passaram a saborear a fruta", diz. A educadora
notou que fazer diversas propostas seria essencial para que a turma aprendesse
de fato com elas. Então incluiu jabuticaba, morango, abacaxi e amora nas
degustações. "Essas atividades devem ser parte permanente da rotina e
aparecer pelo menos uma vez por semana nas salas de creche", sugere Elza
Corsi de Oliveira, formadora da equipe do Instituto Avisa Lá.
Entre refeições, discussões e livros
O próximo
desafio colocado à turma foi no almoço e no jantar. Fernanda pediu que a
merendeira variasse o corte da maçã servida na sobremesa, e a fruta passou a
ser vista pela turma não só em pedaços e descascada mas também inteira. Os
pequenos se interessaram ainda mais por ela quando viram que era citada no
livro da Branca de Neve (Jacob Grimm e Wilhelm Grimm, 16 págs., Ed. Ática, tel.
4003-3061, 23,90 reais).
Depois disso
a educadora levou vários tipos da fruta, como fuji, gala, verde e argentina.
Todos compararam a aparência, incluindo tamanho, cor e dureza para, enfim,
experimentar o sabor de cada uma. Em outro encontro, Fernanda levou a
banana-ouro, variedade diferente da fruta graúda com que estão acostumados.
Depois de
conhecerem o livro A Galinha Ruiva (Elza Fiúza, 32 págs., Ed. Moderna, tel.
0800-172-002, 32,90 reais), as crianças se interessaram em saber mais sobre o
milho, e a professora apresentou os grãos para o encontro seguinte. Outro dia,
foi a vez de explorar os ovos. Como elas estavam acostumadas a comê-los em
pedaços menores, Fernanda os mostrou inteiros e quebrou a casca diante delas,
quando viram como clara e gema cruas eram moles e líquidas. Em seguida,
apresentou os ovos cozidos, também com e sem casca. "Os pequenos se
espantaram com a clara, que grudava na mão e mudava de cor depois do cozimento.
Viram que nas duas situações estavam observando ovos, mas que, com preparos
variados, a aparência se alterava", explica.
Outra
possibilidade de exploração de alimentos envolve a elaboração de pães e bolos.
Carla Albaneze de Oliveira, responsável pelo ateliê de culinária da Creche
Central da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista, explica:
"Muitas vezes apresentamos um alimento e mostramos suas possibilidades. A
cenoura, por exemplo, é degustada crua, depois cozida e então temperada e
misturada ao requeijão, formando um patê. Durante o processo, elas manipulam o
ingrediente e conhecem formas de usá-lo".
Carla também
sugere promover piqueniques e excursões a feiras e fazendas. Convidar os pais
para participar desses momentos e produzir um livro de receitas ajuda a levar
para casa os hábitos saudáveis adquiridos na escola. "É comum as famílias
relatarem que, depois de atividades desse tipo, os filhos cobram uma variedade
maior de alimentos e pratos mais coloridos", conta Sílvia Ulisses de
Jesus, professora da EM Doutor José Diogo Almeida Magalhães, em Belo Horizonte.
No mesmo caminho, Valéria Gonçalves Andreeto, diretora da escola Jardim dos
Pequeñitos, em Santo André, região metropolitana de São Paulo, diz: "Uma
criança que normalmente resiste a experimentar um alimento em casa às vezes
acaba cedendo depois de ver um amigo da escola comer e se deliciar". De um
jeito ou de outro, o interessante é que também seja responsabilidade da creche
fazer com que a criançada amplie o repertório de alimentos conhecidos e esteja
disposta a conhecer novos sabores.
1 Seleção dos alimentos Observe as comidas
que fazem parte da rotina das crianças e eleja as opções que serão incluídas,
como frutas, verduras ou legumes. Envolva as famílias para que também levem os
itens.
2 Apresentação da novidade Mostre a comida
escolhida às crianças. Indique a diferença que tem com e sem casca, cozida e
crua. Entregue a uma criança e peça que, depois de analisá-la (notar o cheiro,
a cor e a textura), passe para o colega ao lado.
3 Momento de experimentar Entregue o alimento
aos pequenos, em pedaços ou inteiro, e peça que provem. Mesmo que se recusem ou
cuspam, procure repetir a proposta para que tenham outras oportunidades de
contato com as comidas.
4 Conversa com a turma Incentive a
participação das crianças para que elas falem sobre o que acharam: já conheciam
aquele alimento? Gostaram? Ele se parece com algum outro? Que sabor e textura
tem? É comido com ou sem casca?
Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/creche-pre-escola/exploracao-alimentos-creche-sabores-textura-comida-750705.shtml?page=0#ad-image-0
Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/creche-pre-escola/exploracao-alimentos-creche-sabores-textura-comida-750705.shtml?page=1
0 comentários :
Postar um comentário