Nada mais
corriqueiro no cotidiano das creches do que uma criança tascar uma mordida em
outra. "Essas ocorrências são naturais na Educação Infantil. O que não
exime a escola de fazer de tudo para que não se repitam", defende Ana
Paula Yazbek, coordenadora do Espaço da Vila, em São Paulo, e formadora de
professores.
Ainda que
desprovida de má intenção, a mordida é uma agressão, provoca dor e deixa marca.
Por isso, precisa ser combatida. O primeiro passo é identificar as situações em
que acontece. "Ela pode significar muitas coisas: demonstração de carinho
- por vezes, aprendida em casa, com os pais - ou de interesse pelo colega,
disputa por brinquedo, irritabilidade, tédio e até um meio de chamar a atenção",
lista Ana Paula. "Não podemos esquecer que nessa faixa etária os pequenos
estão desbravando o mundo por meio da via oral", acrescenta Cisele Ortiz,
coordenadora de projetos do Instituto Avisa Lá.
Cientes
desses diferentes aspectos, as educadoras do CEIM Cristo Rei, em Chapecó, a 545
quilômetros de Florianópolis, inseriram o tema no projeto político-pedagógico
(PPP) e no planejamento dos 21 docentes do berçário e 20 do maternal.
"O
ponto de partida foi conversar com as famílias para explicar o porquê das
mordidas, mostrar a normalidade delas no desenvolvimento infantil e assegurar
que seriam feitas intervenções pedagógicas para evitá-las", conta a
coordenadora pedagógica Juliana Sive Pommerening. Pais e responsáveis foram
chamados a uma palestra na escola, organizada com base no texto Mordidas:
Agressividade ou Aprendizagem?, do livro Os Fazeres na Educação Infantil (Maria
Clotilde Rossetti- Ferreira, Telma Vitória, Ana Maria Mello, Adriano Gosuen e
Ana Cecília Chaguri, 208 págs., Ed. Cortez, tel. 11/3611-9616, 52,20 reais).
As
educadoras esclareceram que praticamente todas as crianças, entre 1 e 3 anos,
em algum momento, usaram ou usarão tal conduta. Disseram também que esse
recurso praticamente desaparece quando a linguagem está mais desenvolvida e
enfatizaram que ficariam atentas. "Quando a mordida ocorre, é comum as
famílias acharem que o filho não está sendo devidamente cuidado. Daí a
importância do engajamento e da transparência por parte da instituição",
diz Ana Paula.
Além da
parceria com os pais, o CEIM incluiu o tema na rotina e passou a ter um
trabalho minucioso tanto para tentar evitar as mordidas quanto para fazer as
intervenções necessárias quando ela acontece. A atenção com relação ao problema
permeou as diversas atividades realizadas, desde os momentos de leitura até as
brincadeiras. Como explica Ana Paula, as ações nesse sentido devem ser parte do
dia a dia escolar.
Olhar atento dia após dia
"No
início do ano letivo, ocorreram vários casos motivados por disputa de
brinquedos e questões afetivas", exemplifica Tatiana Bonato, que leciona
para duas turmas de berçário. Sempre que episódios assim ocorriam, a educadora
acalmava a vítima e, na sequência, conversava com quem tinha mordido. Em geral,
o agredido não entende o porquê daquilo. E o autor do gesto não o vê
necessariamente como uma violência. "Orientamos as professoras a confortar
a criança ferida e mostrar ao colega o que ele fez. É importante que ele
perceba a consequência da ação, mesmo sem ter tido intenção de machucar",
diz a coordenadora. Olhar para os meninos e meninas e dizer frases como
"Não pode. Dói", sem gritar, é uma boa opção. Com isso, espera-se que
eles vão compreendendo que morder não pode ser a melhor forma de se comunicar.
Vale,
também, mapear o primeiro evento, fazendo uma análise detalhada. Como a mordida
se deu? A dupla estava brincando? Havia mais gente junto? Um deles estava
ansioso para pegar o brinquedo? Ou animado, gargalhando? Havia indícios de
irritabilidade? Assim, a educadora vai levantando pistas que auxiliam na
compreensão do caso e ajudam a rever a organização das atividades em sala. Como
diz o texto Mordidas: Agressividade ou Aprendizagem?, "para acabar com o
problema, é preciso pensar sobre a rotina, o espaço, a quantidade e a variedade
de brinquedos. Estar atento aos detalhes. Muitas vezes, são eles os fatores
desencadeadores de mordidas".
Quando o problema se repete
Mesmo com
esses cuidados, casos de mordidas sistemáticas podem se dar e demandam uma
atenção redobrada dos educadores. "Este ano, tivemos vários,
protagonizados pelas mesmas crianças", relata Tatiana. Em vez de recriminar
os pequenos, a professora deixou que brincassem normalmente com a turma, mas
passou a sentar próxima e ficar de olho para evitar novos episódios. Na visão
de Ana Paula, este é o procedimento ideal: evitar colocar a criança de castigo
e se manter por perto. A docente deve ainda se antecipar para oferecer algum
brinquedo ou sugerir uma atividade, como pegar cada um pelas mãos para que,
juntos, partilharem um livro, uma dança, uma bola etc. "Quem antes ia
morder para obter o brinquedo percebe a presença do adulto observando e
intervindo. Com isso, reduz-se a probabilidade de um novo incidente."
Outra
preocupação de Tatiana foi cuidar para que os que mordem mais não fossem
rotulados. "Estereotipar é muito perigoso porque desde cedo a turma
percebe comportamentos e características marcantes dos colegas e os que já são
um pouco mais velhos comentam entre si", esclarece a docente. Passar o
sermão clássico de "bom menino não morde os outros" tampouco é uma
postura aceitável.
A educadora
e a coordenadora optaram ainda por conversar com as famílias dos que mais
mordiam e colocá-las a par do que estava acontecendo. "Chamamos os pais e
falamos sobre as ocasiões das abocanhadas, orientando-os a respeito do trabalho
desenvolvido na escola e trocando ideias sobre as possibilidades para
evitá-las", relata a docente. O mesmo procedimento costuma ser adotado com
relação aos que são mordidos. A escola conta com uma agenda de comunicação com
os pais e faz reuniões com os responsáveis, por turmas, para explicar esses e
outros fatos rotineiros. Quando o ataque é mais forte e deixa marcas, a
coordenadora ou a educadora responsável pela turma liga para a família e
explica o que houve, dizendo que pode vir buscar a criança um pouco antes do
horário de saída e que estarão disponíveis para atendê-la. "Evitamos,
assim, a surpresa da mãe que vai pegar o filho e o encontra machucado",
esclarece Juliana.
Ao longo do
ano, com essas intervenções diárias, as educadoras do CEIM notaram não só uma
drástica redução dos incidentes como também uma maior compreensão dos pais
sobre o problema e o empenho deles em ajudar. "Grande parte passou a
entender que a mordida não é uma agressão nem fruto do descuido das professoras
da creche", frisa Juliana.
1 Conversas iniciais Chame as famílias,
diga que as mordidas são comuns na creche, mas que a escola está comprometida
em evitá-las. Explique as intervenções feitas nesse sentido.
2 Acudindo os pequenos Quando a mordida
ocorre, acalme a vítima e, em seguida, explique para o colega dela que seu ato
resultou em dor e choro, mesmo sem a intenção de machucar. Assim, todos vão
compreendendo que morder não é uma boa forma de se expressar.
3 De olho na repetição Quem morde deve
seguir brincando com os demais. Para tanto, fique próximo, redobrando a atenção
e propondo novas formas de brincar. Jamais coloque a criança de castigo.
Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/creche-pre-escola/mordidas-creche-educacao-infantil-crianca-dente-815426.shtml?page=0
Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/creche-pre-escola/mordidas-creche-educacao-infantil-crianca-dente-815426.shtml?page=1
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