Os bebês
vivem nos surpreendendo. Muitas vezes, parece que não estão prestando atenção
em nada do que dizemos e, de repente, fazem algo que nos mostra que entenderam
tudo. Pode ser por meio de um gesto, um olhar, uma sílaba ou uma gargalhada, o
fato é que eles já se comunicam e cabe ao adulto ajudá-los no processo de
aquisição da linguagem. A professora Ivone Klingbeil da Cruz, da CMEI
Professora Clarice Rocha da Rosa, em Curitiba, sabe da importância de escutar
atentamente sua turminha de 4 meses a 1 ano e meio, e sempre se admira com as
respostas. "Certa vez, estávamos em um momento de leitura e falei o nome
do autor do livro, como sempre fazemos. Ele se chama Jack Tickle. Tempos
depois, quando ia citar outros autores, uma das crianças sempre dizia ‘tique’.
Vi que havia ali uma tentativa de comunicação em que procurava repetir o nome
do autor", conta a educadora.
Silvana
Augusto, formadora do Instituto Avisa Lá, explica por que isso acontece:
"Mesmo antes de falar, as crianças entendem o que os adultos dizem e
conseguem estabelecer formas de se comunicar". E é justamente por isso que
atividades de conversação são tão importantes na creche. No período até 3 anos,
os pequenos vão enfrentar diversas mudanças e descobertas nas áreas motora,
cognitiva e afetiva. Logo que nascem, eles ainda dependem totalmente das
pessoas ao redor. Com o tempo, vão adquirindo autonomia, conseguem controlar os
próprios movimentos e aprendem a expressar sentimentos e pensamentos.
Para que
consiga falar - mesmo já nascendo com o potencial de se expressar por meio de
palavras -, a criança precisa da ajuda do adulto. "Ela constrói a
linguagem imitando, respondendo ao estímulo dado pelo outro, reproduzindo grunhidos,
aprendendo a rir e a produzir sons que no começo não têm o mesmo sentido que
têm para nós, mas pouco a pouco vão compondo o que chamamos de linguagem",
explica Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de
São Paulo (USP).
Garantir
esses momentos de conversa com os bebês é essencial não só para a construção da
fala, mas também de outras habilidades. É por meio do diálogo que os pequenos
aprendem a organizar a memória e começam a reivindicar seu espaço como
indivíduos, ocupando futuramente um lugar na sociedade e sendo capazes de
expressar seus pontos de vista.
O papel fundamental da escola
Para que
todos tenham as mesmas chances de aprender, é essencial que os educadores
acompanhem de perto os bebês. A maioria dos pequenos, até chegar à creche, convive
principalmente com os adultos responsáveis por seu cuidado, sem ter muitas
chances de se expressar de igual para igual. É no ambiente escolar, portanto,
que essas oportunidades podem se tornar mais frequentes.
Fica, então,
a pergunta: quando começar esse trabalho? A resposta é simples: o mais cedo
possível. Até 1 ano, as crianças passam por muitas experiências. Aos poucos,
elas começam a ter o controle de seus movimentos e conseguem sentar sozinhas,
para depois engatinhar, se levantar e, posteriormente, andar. É nesse momento
que passam a segurar objetos e brincar com eles. E a aprendizagem da fala pode
entrar nesse contexto.
Como nessa
idade muitos bebês ainda não falam, o professor tem de se preocupar em
estabelecer outras formas de comunicação. Cada um desenvolve a própria
linguagem e é fundamental que os educadores reparem nisso. "Nessa faixa
etária, o contato professor-criança é mais importante do que a comunicação em
grupo. O educador deve reservar um tempo para conversar com a criança em um diálogo
exclusivo", defende Silvana. Uma opção para isso é aproveitar os momentos
de cuidado e higiene, como troca de fraldas, banho e alimentação. Olhar nos
olhos da criança, contar a ela o que está fazendo, perguntar a opinião são
práticas interessantes: "Agora, vamos colocar a sua blusa, olha como ela é
bonita. É azul, com bolinhas. Você gosta dessa cor? ".
Aos poucos,
torna-se possível realizar atividades que envolvam toda a sala ou grupos
menores. Ivone e as educadoras Carla Andressa Andrade e Marcia da Silva Pinto
de Souza, que a acompanham em classe, costumam aproveitar atividades cotidianas
e falar com a turminha, mesmo que a maioria ainda não responda. Ivone conta,
por exemplo, que ao deixar as crianças no cantinho da leitura, fica atenta aos
exemplares que mais chamam a atenção e conversa sobre eles. Quando um dos
meninos seleciona uma obra, ela começa um diálogo dizendo: "Olha, você
escolheu o livro do gato, que legal! Cadê o gatinho aqui, me mostra? Ah, achei,
está aqui! Você quer que eu leia? Deixa eu pegar o livro, então. Cadê o
Lorenzo, seu coleguinha? Podemos convidá-lo a ouvir a história com a gente, que
tal?".
As
educadoras adotam uma postura semelhante quando levam as crianças para fora da
sala, oferecendo novos cenários e objetos para explorar. Nesses momentos, elas
estendem um tapete no gramado e disponibilizam brinquedos. "Vamos passando
os objetos, eles pegam na mão e nós levantamos questionamentos e falamos sobre
a situação, descrevendo e comentando o que está acontecendo", explica Ivone.
"Quando uma criança encontra um que faz um ruído curioso, começamos a
falar: ‘Vocês estão ouvindo esse barulho? Olha só, esse brinquedo aqui faz um
barulho quando você mexe nele. Parece um passarinho. Como faz o passarinho? ’".
Silvana
lembra que, nesses momentos, o educador deve estar atento às diferentes
respostas da turma. "É muito comum a criança apontar para alguma coisa.
Esse gesto não significa necessariamente que ela quer que o adulto olhe para
aquilo. Às vezes, ela quer que o objeto seja nomeado. É importante nomear o que
aponta", diz ela.
Ivone também
incentiva a interação entre a turma. Para tanto, ela costuma chamar a atenção
de uma criança para o que a outra está fazendo. "Nós falamos do colega,
comentamos algo sobre a roupa, o brinquedo que ele está usando, se está
engatinhando, por exemplo." Ao fazer isso, a docente atua como mediadora e
estabelece um diálogo entre eles.
Todas as
atividades, embora não sejam organizadas em um projeto, são parte da rotina e
exigem planejamento. Uma vez por semana, as três educadoras fazem uma reunião
para analisar os resultados e buscar formas de aprimorá-lo.
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