Objetivo(s)
* Construir,
coletivamente, uma biblioteca como lugar capaz de abrigar não somente livros,
mas de suscitar rituais agradáveis de leitura;
*
Apresentar o acervo de livros, promovendo o
gosto pelas histórias e ampliando repertórios;
*
Estreitar a relação creche-família por meio do
empréstimo de livros.
Ano(s)
Creche
Tempo estimado
Um semestre ou ao longo do ano todo
Desenvolvimento
1ª etapa
Introdução
Tão importante quanto garantir que as crianças tenham acesso a bons
livros desde bem pequenas, é organizar ambientes convidativos, aconchegantes e
singulares para que elas possam usufruir das histórias em situações prazerosas
de interação com os colegas, professores e famílias. A iniciativa de construir
uma biblioteca na sala para e com as crianças, constitui-se uma excelente
oportunidade para fomentar o contato das crianças com os livros, criar lugares
mágicos, cheios de identidade, e realizar rodas de leituras.
Desenvolvimento
O primeiro passo é o professor discutir com seus parceiros - outros
professores e equipe gestora - sobre os livros que pretende escolher para
compor o acervo de sua futura biblioteca de sala. Essa escolha implica que o
educador seja, acima de tudo, um leitor, que tenha interesse em se aventurar no
mundo das histórias para conhecê-las, antes de lê-las para seu grupo de
crianças. Selecionar temas como: animais, objetos sonoros, família,
transportes, personagens de diferentes etnias, histórias cumulativas com várias
figuras do universo do faz de conta (bruxas, piratas, lobos).
Outra dica é escolher livros coloridos, com ilustrações bem definidas,
textos curtos e alguns com fotografias reais das coisas. É importante garantir
um equilíbrio entre a quantidade de livros de capa dura com livros de material
convencional, pois é comum que algumas páginas se danifiquem, rasguem ou que
sejam levadas à boca, em razão do grande interesse e da necessidade da meninada
em manipular as publicações.
Não se esqueça de incluir no acervo livros que contenham apenas
imagens, pois eles favorecem a criação de histórias próprias das crianças.
2ª etapa
Deve-se organizar um lugar onde os livros ficarão expostos e
acessíveis às crianças. De preferência, escolha um canto em que haja o encontro
das paredes ou então aproveite a parte traseira de móveis e armários. Depois, é
possível confeccionar suportes de tecido com vários bolsos, trilhos de cortina
virados ao contrário para serem fixados à parede, baús de madeira pintados
pelas crianças ou até mesmo aqueles caixotes de feira, que se ganharem rodinhas
e cor ficam melhores ainda, uma vez que poderão ser transportados de um lugar
para o outro.
3ª etapa
Uma prática que dá bastante resultado é construir um tapete com as
crianças. O objetivo principal aqui é fazer com que o tapete tenha "a
identidade" delas, uma vez que servirá como um indicador dos momentos de
leitura, iniciando assim um ritual próprio da turma.
Separe um tecido de algodão cru de mais ou menos 2 por 2 metros. Veja
a possibilidade de alguma família ou profissional da creche costurar as bordas
do tecido para que o tapete não desfie conforme o uso. Convidar alguém da
comunidade interna ou externa faz com que o trabalho comece a ser partilhado
entre todos, dando noções para as crianças de que é importante realizar as
ações de maneira coletiva. Acredite, sempre terá alguém disponível para ajudar!
De posse do tapete, organize com as crianças situações de pintura.
Nessa hora vale experimentar muitas técnicas: carimbar o tecido usando esponjas
e guache; desenhar as silhuetas das crianças pedindo que elas se deitem sobre o
tapete, fazer a sobreposição dos contornos e, em seguida, pedir que elas pintem
por cima usando tintas. Fazer intervenções com fitas crepes ou outros moldes de
desenhos de interesse da turma - bichos, símbolos - para que elas passem
rolinhos de pintura e deixem suas marcas sobre o tecido. Feito isso, é só
esperar secar para depois começar a usá-lo como um indicador do ritual das
rodas de leitura na biblioteca.
4ª etapa
Outra estratégia para delimitar o ambiente é solicitar às famílias que
enviem para a instituição camisetas, vestidos ou outras roupas reconhecidas
pelas crianças para que esse material seja preenchido com espuma, costurado nas
aberturas e depois pintado pelas próprias crianças, transformando-se em
"almofadas personalizadas". É curioso ver a criançada de posse de sua
própria roupa reaproveitada como estofados para sentar-se e deitar-se enquanto
os livros são apreciados.
5ª etapa
Apresente os livros da biblioteca aos poucos às crianças. Uma ideia é
reunir a turma no "cantinho" do tapete diariamente em um horário
específico, como, por exemplo, logo após o lanche, e apresentar alguns. Você
pode ler o título e até o comecinho da história, mostrar as ilustrações e fazer
perguntas sobre o que eles acham que acontecerá. Um pouco de suspense ajuda a
aumentar a curiosidade da turma pelos livros. Deixe que as crianças também se
envolvam com a organização dos volumes na estante. A divisão pode ser bem
simples, como os gibis e revistas de um lado e os livros de outro. Outra
classificação pode ser: ‘os que gostamos mais’ e os que ‘ainda não conhecemos’.
Ou os livros que trazem histórias e os informativos, que explicam coisas. Os
pequenos devem ter noção de que tipo de livros encontrarão em determinado lugar
da estante. É importante que as crianças tenham acesso livre à biblioteca (ou
ao menos a parte dela) e possam manusear os livros à vontade sob o olhar do
professor - além do momento específico da leitura conduzido pelo educador com
um enfoque direcionado a uma determinada prática.
6ª etapa
E qual deve ser a relação do professor com a leitura? Na biblioteca, o
foco é pensar na sua prática enquanto leitor. Você é, afinal, o responsável por
apresentar o mundo da leitura e é o mediador entre o objeto livro, as crianças
e as relações que ali se estabelecem. Nessas situações, certas estratégias e
posturas são importantes, tais como: antes de iniciar a roda de leitura, o
professor deve mostrar o livro para as crianças, chamar a atenção para sua
capa, ler e apontar para o título, dizer quem escreveu a história, quem a
ilustrou e qual o nome da editora. As crianças se interessam por essas
informações, por vezes perguntam sobre quem fez o livro e se manifestam com
sorrisos, gargalhadas e palmas quando o nome é engraçado!
Indagá-las sobre o que acham que a história vai contar,
incentivando-as a levantarem hipóteses e anteciparem a narrativa, constitui-se
um estímulo à imaginação e ao desenvolvimento da oralidade. Também é necessário
ler o texto na íntegra, sem suprimir trechos, pois isso ajuda a criança a
perceber que as palavras representam a fala, que há muitos jeitos de se contar
e diferentes estilos e estruturas de textos (rimas, poesias, contos,
lendas...). Aliás, diversificar os tipos de livros, apresentando-os diária ou
semanalmente possibilita que as crianças se apropriem deles com mais liberdade
e competência ao manuseá-los sozinhos.
Durante a leitura, procure caprichar nas entonações de voz que
transmitam emoção, suspense, surpresa e alegria. Outra dica é ler mostrando as
ilustrações. Essa estratégia os deixa mais envolvidos com a narrativa. Mas
deixe para fazer os comentários sobre as ilustrações após a leitura do texto.
Uma maneira de comentá-las é imaginar que somos interlocutores de uma
"obra de arte", fazendo perguntas que podem ser mais simples ou
complexas, respeitando a idade da criançada. Geralmente, mostramos a ilustração
e incentivamos que digam: O que veem na imagem? O que será que o personagem
fez/está fazendo/fará? O que chama a atenção? O que aparece na cena? Quais
objetos aparecem? Quais as cores? Como está o personagem? Triste? Alegre? Qual
será seu nome? Se repentinamente surge algo inusitado como, por exemplo, uma
girafa, quem já viu esse animal? Entre tantas outras possibilidades de
intervenção.
Em suma, o professor leitor é aquele que, por meio da leitura, leva a
criança a conhecer novos universos, despertando de alguma maneira afetos e
sentimentos, que podem ser sensações de alegria, prazer, mas também lembranças,
saudades...
7ª etapa
Para o empréstimo dos livros, faça na sala um painel que servirá como
fichário. Vale construir um mural, cujo fundo seja colorido pelas próprias
crianças. Uma boa ideia é usar papel panamá e aquarela; outra é pintar com
pincéis largos sobre cartolinas ou, ainda, espalhar tinta guache com as mãos em
suportes que podem ser plastificados com contato para durar mais. Em seguida, é
possível fazer alguns bolsinhos e colocar as fotos de cada criança na frente
deles. Dentro de cada bolso vai uma ficha que pode ser tanto relacionada ao
nome da criança e às anotações do livro que ela levará para casa, quanto o
contrário: a ficha pode ser retirada do próprio livro para ser colocada no
bolsinho respectivo à criança. Elas se apropriam dos combinados aos poucos. No
começo, a brincadeira fica por conta de tirar e por as fichas nos bolsos,
trocando-os entre os colegas. Permitir essa experimentação inicial é saudável,
para em seguida comunicar o uso correto.
8ª etapa
Com relação ao início do empréstimo, combine com os pais ou
responsáveis que a ideia é estreitar os vínculos entre a creche e a família por
meio da leitura, assim como estabelecer um elo em que o livro seja o
intermediador de histórias e outras conversas entre todos. O contrato aqui é
definir um dia da semana (geralmente sexta-feira) e convidar as famílias para
escolherem um livro junto com a criança, escutando suas preferências e
estratégias de escolha, tais como: a história já conhecida, a capa que chama atenção,
a editora, o autor, as ilustrações.
Feita a seleção, criança e família levam o livro para casa dentro de
uma sacolinha de pano ou pasta, ao melhor estilo "vai-e-vem". No dia
combinado para a devolução do livro, é importante que o professor garanta uma
roda de conversa para saber das crianças como era a história, do que elas
gostaram, quem leu para ela, em que lugar o livro foi lido etc. Nessas
situações, as crianças costumam falar aspectos ligados à afetividade vivida com
a leitura: "Minha mãe leu pra mim", "Foi minha irmã que contou a
história do lobo", "O macaco encontrou a mamãe dele...".
Avaliação
Diante do processo, o mais significativo é desenvolver permanentemente
as ações e atentar-se ao movimento do grupo. Com o tempo, é possível notar que,
ao estender o tapete, as crianças já se acomodam e pedem para ouvir as
histórias. Também é comum que elas peguem as próprias almofadas, usando-as
enquanto entram no universo mágico dos livros. Um papel importante do educador
é observar como as crianças manuseiam os livros, se contam as histórias para si
mesmas e para os outros, se tentam interagir com as imagens, apontando-as ou
tentando pegá-las, se repetem aquilo que ouviram. Ouvir a devolutiva das
famílias é outro ponto forte.
Por fim, não descuide da renovação do acervo da biblioteca. A chegada
de novos livros potencializa o interesse das crianças e amplia o repertório
delas.
Fonte:http://rede.novaescolaclube.org.br/planos-de-aula/construcao-de-uma-biblioteca-com-e-para-criancas-menores-de-3-anos